28 de abril de 2010
27 de abril de 2010
20 de abril de 2010
12
Esta composição teve uma abordagem diferente das outras. O tipo de letra é mais clássico e parece escrito à mão, para demonstrar algumas características de Ricardo Reis. A palavra “memória”, no primeiro verso, é repetida algumas vezes, como se estivesse a ir para trás, desvanecendo em cores mais claras. Também a palavra suave está escrita num tom claro, para reflectir a qualidade à qual se refere. As palavras “à beira-rio” formam uma mancha de cor preta e uma onda, que representam o rio. No último verso, a palavra “triste” está destacada, parecendo que a própria palavra está a chorar.
Nesta composição, o nome do poeta está escrito num tom mais claro, quase como se fosse uma memória no plano de fundo. Ele esteve presente naquela cena, mas talvez apenas como observador.
11
Nesta composição, apesar de Álvaro de Campos ser, para mim, o heterónimo mais excêntrico, escolhi manter a letra sempre igual. Desta forma, pretende-se realçar o papel da composição em si, através de diferentes tamanhos de letra e o facto de esta, por vezes, estar a negrito. No centro, em destaque, estão os “r”. Quando se lê o poema, e outros poemas de Álvaro de Campos, são estas onomatopeias que se destacam e chamam mais a atenção do leitor. Ao contrário do que se passa na composição relativa a Alberto Caeiro, os versos não estão em nenhuma ordem particular. É suposto demonstrar-se desorganização e até uma espécie de loucura, sendo que na composição podemos ler apenas palavras soltas, quase como se fossem gritos.
Aqui, o nome do poeta quase não tem destaque pois, através do próprio poema, podemos logo ver quem é o autor.
10
Representação literal dos versos através da tipografia. As primeiras três linhas estão justificadas, “em ordem”. A palavra “letreiros” está escrita em maiúsculas e a negrito, como se costuma ver em placas na rua. O verso “E desenham paralelos de latitude e longitude” está igualmente representado de forma literal, “latitude” escrito na vertical e “longitude” na horizontal. No último verso, Alberto Caeiro fala da “terra” e da Natureza à qual está intimamente ligado. Por este motivo, na composição, este verso forma uma montanha, como se fosse uma paisagem que o poeta avista.
O nome do poeta aparece em baixo, destacando-se pelo tamanho. Isto deve-se ao facto de Alberto Caeiro ser o mestre dos outros heterónimos, o mais antigo. Também por isto o tipo de letra parece mais antiquado do que o tipo de letra utilizado na restante composição.
7 de abril de 2010
8
Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no “extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser, como este, um discípulo de Caeiro. Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensasionalismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a “sensação das coisas como são”: procura a totalidade das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Em relação às suas composições poéticas, Álvaro de Campos viva várias fases. A primeira é a do decadentismo, que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. Segue-se a fase futurista/sencionalista, que se relaciona com o elogio à civilização e à técnica, com uma atitude escandalosa e com a ruptura com o subectivismo da lírica tradicional. Representa a vivência em excesso das sensações, chegando mesmo a demonstrar um certo masoquismo. Por fim, existe a fase pessimista/intimista durante a qual, perante a incapacidade de realizar aquilo a que se tinha proposto, Álvaro de Campos traz de volta o abatimento, sofrendo fechado em si mesmo, angustiado e cansado.