Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no “extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser, como este, um discípulo de Caeiro. Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensasionalismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a “sensação das coisas como são”: procura a totalidade das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Em relação às suas composições poéticas, Álvaro de Campos viva várias fases. A primeira é a do decadentismo, que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. Segue-se a fase futurista/sencionalista, que se relaciona com o elogio à civilização e à técnica, com uma atitude escandalosa e com a ruptura com o subectivismo da lírica tradicional. Representa a vivência em excesso das sensações, chegando mesmo a demonstrar um certo masoquismo. Por fim, existe a fase pessimista/intimista durante a qual, perante a incapacidade de realizar aquilo a que se tinha proposto, Álvaro de Campos traz de volta o abatimento, sofrendo fechado em si mesmo, angustiado e cansado.
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